Rodrigo Guéron
Eu voto André Barros, 13351, o deputado Anormal.
O André é a negação da idiotice da objetividade que domina a política, a eleição dele seria a derrocada dos marqueteiros, a entrada de um verdadeiro clown naquela cena de atores canastrões das nossas casas legislativas. E viva o clown! E escrevo isso me lembrando do Zé Celso Martinez elogiando as virtudes de ator do Lula no debate contra o Alkminho em 2006: "O Lula parecia um Pajé", se empolgava o Zé. Até mesmo para um certo PT almofadinha de burocratas de discursos corretos e terninhos bem passados, o André funcionaria como um verdadeiro pacifista homem-bomba. Um desconcerto tremendo. Seu jeito aparentemente impostado discursando em cima de um banco no coração do centro do Rio, falsamente formal, é um espelho anamórfico (desses de parque de diversão) do insuportável “político correto”, amarrotado e deformado pela sinceridade do André, de quem esse político deve morrer de medo. Fácil seria achar o André ridículo nessa posição, mas ele é o duplo deformado do ridículo de quem vê a política a partir do critério de normalidade que ele, com sua performance, explode desde dentro.
Vocês já viram o vídeo no youtube onde ele fala da liberação da maconha? É totalmente sensacional como ele se equilibra na corda bamba da legalidade e dribla a hipocrisia jurídica do Estado e seus legalistas higienistas que normatizam a violência em nome do combate a ela.
Completamente tola essa busca de um deputado todo correto, cheio de plataformas e estratégias. E mais, o André tem as melhores estratégias, está nas melhores lutas. Onde se fala em repressão ele faz o discurso da liberação, onde dizem que falta ordem ele reclama por um carnaval. Descriminalizar a maconha e deixar o cara plantar uns pezinhos em casa, me dizia ele outro dia, qualquer problema que o cara vá ao médico, ao pai de santo ou a psicanalista.
Que quantidade de violência, pequenas e grandes, micros e macros, que a criminalização não gera?
E depois tem as outras brigas onde o André se mete: o apoio às ocupações do sem teto, a compreensão do comércio informal como uma economia em potencial. A luta implacável contra a violência da polícia, da guarda municipal e cia. Imagino o gabinete do André absolutamente à disposição dos movimentos ( um aparelho , meus caros, exatamente, um aparelho dos desaparelhados!! “Ah que horror” diria a moradora de Ipanema que é contra o metrô e a política de cotas). Eu imagino um gabinete do André como uma ocupação, uma invasão do aparelho que aquela porcaria é. O tipo de tumulto e de festa que faríamos na Assembléia Legislativa ia acabar por botar um monte de moralistas atrás de nós ( e nós atrás deles, ah, ah, ah).
Não há coisa mais sensacional do que ver o André fazendo campanha. O cara chega num bar, começa a tomar cerveja, a pedir voto e ao mesmo tempo contar histórias-aventuras de suas adolescência, coisas que ele viu, passou ou fez que nenhum candidato teria coragem de contar. O cara apresenta publicamente uma espécie de anti currículo. São anos que ele andou pela torcida do Botafogo ( e eu sou Flamengo, bem entendido), percorrendo o país, sendo ritimista da bateria do Império Serrano, subindo e descendo a Serrinha, perambulando pela noite do Rio e de outras cidades do Brasil e tal.
Então o cara defende a política de cotas, fala do racismo e da hipocrisia da classe social de onde ele mesmo vem, todo mundo morre de rir com as histórias e alguns se perguntam: Como eu vou votar num cara desses? E o André sai, dizendo “votem em mim, votem em mim” e fala que vai para uma outra festa onde, garante: “ tem voto pra cacete”.
E aqui eu me retrato. Na minha normalidade intelectual contra qual eu tanto luto, mas que me seqüestra tantas vezes sem que eu perceba, recomendei há alguns meses, numa mesa de bar, que o André não fosse mais candidato. Que péssimo conselho!! O André fazendo campanha é o pinto no lixo! Que coisa mais normal, por um lado, é dizer “não gosto de política”, que coisa mais irritante, por outro, estas campanhas de ongs-bom-mocistas e instituições do Estado nos aconselhando, como se fôssemos um bando de bocós, a “votar certo e com consciência”. No fundo são duas faces da mesma moeda. Duas faces dos que fingem estar fora da política, tal qual a celebridade que ganha centena de milhares de reais para fazer propaganda de um produto que ela nunca usará, e que pede apoio de milhões da lei Rouanet (“dinheiro público”) para fazer o próprio show, e depois se declara “ de classe média” e “horrorizada com a corrupção dos políticos”. O André diz para todo mundo que adora política, adora ser político e sonha abertamente em ser deputado.
O André é o meu candidato a deputado. Um candidato errante, anormal, amoral ( que não é sinônimo de imoral, vão ler Nietzsche antes de vir me aborrecer!), um mestre das boas histórias e do riso no mesmo movimento que está sempre vigorosamente nas lutas políticas certas. E tudo isso, para dizer que não falei nelas, são para mim virtudes políticas.
Voto anormal, voto André Barros, 13351, para deputado estadual no Rio de Janeiro!
Grande abraço,
Rodrigo Guéron