quinta-feira, 10 de novembro de 2011

USP e MACONHA

Os estudantes da USP relataram que a polícia militar, desde a realização do convênio com a universidade, vinha constantemente abordando e revistando muitas pessoas a procura de maconha, as famosas “duras”. Dentro das faculdades circulavam armados. Vários outros crimes eram praticados no campus, como homicídio, roubo, dirigir embriagado, corrupção etc. Mas por que a polícia seleciona em regra a abordagem dos maconheiros? A explicação é materialista histórica. O hábito de fumar maconha foi trazido pelos negros escravizados e degredados da África. A polícia tem suas raízes nos antigos capitães do mato, que recebiam recompensas quando pegavam os escravos que buscavam sua liberdade. Esta polícia fez sua história prendendo os estigmatizados como maconheiros vagabundos que não queriam trabalhar. Vem daí toda uma linguagem subjetiva que reúne termos como maconheiro, macumbeiro, cachaceiro, arruaceiro etc.
Dos longos períodos de ditaduras que viveu o Brasil, na de Getúlio, a maconha foi criminalizada com o discurso racista lombrosiano. Fumar maconha era uma característica de um criminoso nato das condutas mais violentos. Os jornais sempre noticiando que “fulano praticou o crime emaconhado.”
Na ditadura militar, institucionalizou-se, com toda a cobertura da mídia que se criava, um Estado de Polícia. Tão forte que, agora, para ser criada a Comissão da Verdade, os torturadores foram anistiados, mesmo sendo a tortura um crime universalmente imprescritível. Todos esses agentes da repressão continuaram atuando e construindo esta polícia.
Infelizmente, a USP, que poderia ter enfrentado a complexidade da questão, com debates transversais nas suas faculdades de sociologia, direito, medicina, artes, em todo seu universo, sobre a política de segurança pública, preferiu seguir as práticas de nossa herança policialesca e escravocratas. Foi inadmissível o que a polícia fez com os estudantes na escura madrugada de 8 de novembro de 2011. Mas esse movimento, que encontrava alguns preconceitos, passou a ter mais adesão e vai crescer, pois a violência foi tão grande que aqueles que estavam a favor da polícia agora estão contra. Parabéns aos estudantes que resistiram e não se deixaram controlar, vigiar, policiar e corrigir. Trata-se de um movimento horizontal que não quer derrubar um ditador específico, mas resistir e derrotar práticas verticais criminalizadoras e de exceção herdadas da escravidão à ditadura militar golpista de 1964. É racista a criminalização da maconha no Brasil.

ANDRÉ BARROS

Adv.André Barros