André Barros, 51 anos, carioca, mestre em ciências penais, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros e advogado da Marcha da Maconha. Entrou na Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ em 1989, onde foi delegado, membro, Secretário-Geral e atualmente Vice-Presidente.
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
1ª MARCHA DA MACONHA IMPERIAL
No dia 19 de maio de 2012, quase duzentos ativistas saíram pelas ruas de Petrópolis cantando e defendendo a legalização da maconha.
É importante registrar que, durante a ditadura militar, era em Petrópolis que ficava uma das casas mais tenebrosas daquele Estado Torturador, chamada "Casa da Morte". Até hoje, esse inferno na terra não virou o "Museu da Morte", onde todos os moradores de Petrópolis e do mundo vão poder conhecer a verdade sobre a ditadura militar brasileira.
Petrópolis é uma linda cidade histórica, de clima maravilhoso, onde vivem pessoas tranquilas e companheiras. Na cheirosa Serra, a irmandade petropolitana construiu a primeira Marcha da Maconha Imperial. Mas é importante consignar que pessoas de extrema direita, que participaram diretamente da ditadura militar, sujando ou não as mãos, continuam vivendo por lá e não devem ter ficado nada satisfeitas com a Marcha da Maconha Imperial. A maconha é a voz da liberdade, que acumula as lutas contra a escravidão e contra a ditadura militar e, por isso, causa tanta hipócrita indignação. Ativistas da Marcha da Maconha de Petrópolis, nosso máximo respeito!
Logo na concentração, na Praça da Inconfidência, defendi, ao megafone, que a Marcha é uma teia de muitas redes, como a do Smoke Buddies, que ajudou muito na construção daquela primeira Marcha. Dentre as diversas redes, temos aqueles que defendem a maconha para fins industriais. Como também defendo seus fins industriais, lembrei que Petrópolis era um histórico pólo da indústria têxtil de algodão e de comércio de roupas. Com a legalização da maconha, Petrópolis poderia se tornar também um pólo de produção e comércio de roupas feitas de cânhamo. Portanto, a Marcha da Maconha estava ali para defender o desenvolvimento sustentável da cidade com foco nesta importante matéria prima.
A surpresa da Marcha foi a decisão, na véspera, do MM. Juiz da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso de Petrópolis, que proibiu a participação de crianças e adolescentes, acompanhados ou não de seus responsáveis. Segundo as palavras do próprio magistrado, a decisão visava “resguardar a integridade psicológica destes jovens, ainda em fase de formação de suas convicções, as quais devem ser desenvolvidas de forma livre”. Tendo recebido a notificação judicial, o ativista Raphael, sob nossa orientação, ficou registrando ao megafone a proibição para evitar que ocorressem prisões.
Conversamos com as autoridades acerca da dificuldade do cumprimento de tal decisão, e que o tema inclusive havia sido debatido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 187, quando o Ministro Luiz Fux defendeu tal proibição, mas logo reconsiderou sua posição diante da discordância de todos os demais Ministros naquele julgamento.
Como o Juiz que deu a ordem não estava presente, organizadores, policiais, comissário e o Promotor de Justiça cumprimos sua decisão, repetindo-a ao megafone, com a tolerância que merece a ordem para um evento na rua. O ponto alto da Marcha da Maconha foi quando o Promotor de Justiça me declarou que estava ali para garantir a realização do evento.
Assim, saiu a primeira Marcha da Maconha Imperial pelo centro histórico da Monarquia brasileira cantando, com sua irreverência característica e o máximo respeito: "Ei Dom Pedro / primeiro maconheiro!”.
ANDRÉ BARROS, advogado da Marcha da Maconha
29/05/2012