André Barros, 51 anos, carioca, mestre em ciências penais, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros e advogado da Marcha da Maconha. Entrou na Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ em 1989, onde foi delegado, membro, Secretário-Geral e atualmente Vice-Presidente.
domingo, 9 de dezembro de 2012
CRACKONHA
Por Dr André Barros
Todo o sistema “ GLOBO”, em sua blitzkrieg, com jornais, internet, canais de televisão e estações de rádio, fez grande estardalhaço sobre uma nova mistura que seria uma das mais danosas de todas as drogas. Intermediários e “aviões”, somente pobres, presos como traficantes, fazem o espetáculo.
Em primeiro lugar, essa mercadoria não é nova, pois já vem circulando pelo Rio de Janeiro há no mínimo mais de uma década. Segundo, não é uma mistura, pois as substâncias são vendidas no mesmo invólucro, porém separadamente. A mistura não é feita pelos vendedores, mas pelos próprios consumidores.
Segundo a blitzkrieg midiática, a nova mistura é a forma encontrada pelos traficantes para viciar consumidores de maconha, que procuram a erva da paz. Com a venda em conjunto, o “maconheiro” passaria a se viciar na mistura e, por último, no crack. Segundo eles, como ela seria a "porta de entrada", o discurso se volta contra a maconha. Nas notícias, li também que os traficantes estariam usando tal estratégia para reduzir a "fissura" dos viciados em crack, que a reduziriam o consumo com a maconha.
O perigo maior deste discurso reside na tentativa de ampliação das já ilegais e inconstitucionais internações dos consumidores de crack aos usuários da maconha. Em outras palavras, segundo a lógica midiática, as internações arbitrárias e torturantes dos supostamente perigosos consumidores de crack deveria se estender aos também perigosos usuários de maconha.
A visão hegemônica é totalmente tendenciosa e, embora costume se autodenominar científica, não possui qualquer comprovação empírica. Chegam a equiparar a maconha ao crack e ainda estabelecem que a tal mistura é um mal demoníaco. Não falam, por exemplo, que a legalização da plantação para uso próprio e o consumo de maconha seriam poderosas armas da paz. Confirmando a tendenciosidade do pensamento enjaulado, ninguém falou do estudo realizado pela UNIFESP-Universidade Federal de São Paulo, segundo o qual 68% dos 50 sujeitos estudados trocaram o crack pela maconha e, depois, teria parado também de fumar a própria maconha. O estudo foi realizado pelo professor psiquiatra Dartiu Xavier, que teve que abandonar a pesquisa pela estigmatização, preconceito e ignorância. Suas pesquisas empíricas foram interrompidas após ameaças de prisão e insinuações de tráfico.
Estão promovendo, de fato, uma blitzkrieg! Ao contrário de ser porta de entrada, a maconha é a porta de saída para o crack. É isso que teme o poderoso mercado legal de bebidas, cigarros e outros bizarros materiais da indústria farmacêutica.
ANDRÉ BARROS, advogado da Marcha da Maconha
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