quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

BOCA DE FUMO E BRIZOLA NA CABEÇA Por Dr. André Barros

Até os anos sessenta, a maconha era consumida pelas camadas pobres da população, formadas em sua maior parte de mestiços, negros e índios. No mundo ocidental, foi a partir dos movimentos de “contracultura” que a maconha passou a ser consumida pela juventude branca de classe média, simbolizando uma forma de contestação. A comercialização da maconha nos colégios e universidades era realizada pelos próprios estudantes de classe média, que vendiam 50, 100 gramas da erva solta vinda do polígono da maconha. Localizado no vale do São Francisco pernambucano e cidades da Bahia, apenas camponeses eram presos como traficantes. Contra os donos da terras e financiadores do tráfico quase nada acontecia. No varejo, a maconha era vendida nos morros, nas famosas bocas de fumo do Rio de Janeiro. Poucos comerciantes, com revólver calibre 38, vendiam a maconha em cartuchos ou "mutucas" com cerca de 5 gramas. A boca era móvel e os próprios moradores dos morros indicavam ao consumidor onde ela estava. Até os anos 80, nelas, só se vendia maconha, daí o nome "boca de fumo". Raramente, como durante o carnaval, ofereciam também lança perfume e cheirinho da loló. Foi nesta década que começou a se estabelecer o cartel da cocaína. Em 1981, exatamente no período de férias escolares, a maconha sumiu da cidade do Rio de Janeiro. Sedentos pela maconha, exatamente no verão para curtir a praia, seus consumidores de classe média não encontravam o fumo em lugar algum. No entanto, espalhavam-se na cidade boatos de que determinadas comunidades estavam vendendo maconha. Quem corria para a boca de fumo ouvia do traficante que a maconha tinha acabado. Mas aquele comerciante já portava um armamento mais pesado e começava a instigar o comprador a consumir um outro produto, ao mesmo preço da maconha, apelidado de “brisola”, em razão da brisa do mar. Tratava-se de cocaína com alto grau de pureza, "batizada" com fermento e demais produtos. Isso aconteceu em alguns morros, no verão de 1981, durante uma seca de maconha. No verão seguinte, 1982, já foi bem diferente: a tal “brisola” entrou em todas as comunidades simultaneamente a uma retirada total da maconha. Ao consumidor que chegava ela era oferecida pelo mesmo preço da maconha. Também apelidada de "brilho", muitos diziam que naquele ano as noites cariocas brilhavam. Naquele mesmo ano, tivemos a primeira eleição para governador dos estados depois da sanguinária ditadura militar. Brizola era candidato e, no início da campanha, tinha apenas 4% da preferência do eleitorado. Mas em histórico debate, no então programa “O Povo na TV”, o candidato virou o jogo e passou a ter a preferência da cidade. Como a “brisola” já tomava conta de muitas mentes cariocas, trocado o "s" pelo "z", foi lançado pela boca do povo o lema que levaria aquele, que tanto lutou contra a ditadura, ao governo do Estado do Rio de Janeiro: BRIZOLA NA CABEÇA. ANDRÉ BARROS, advogado da Marcha da Maconha

Adv.André Barros